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    King, Martin Luther

    Martin Luther King Jr. nasceu a 15 de janeiro de 1929, na cidade de Atlanta, Geórgia (Estados Unidos da América). Na época, Atlanta era um centro cultural e religioso significativo para a comunidade afro-americana, tendo exercido uma forte influência em Martin Luther King, por meio de sua educação e experiências locais. Oriundo de uma família de classe média, de uma confraria de três irmãos, em que a fé cristã era central, seu pai, Martin Luther King Sr. (n. 19 de dezembro de 1899 – m. 11 de novembro de 1984), era um pastor batista, enquanto sua mãe, Alberta Williams King (n. 13 de setembro de 1904 – m. 30 de junho de 1974), era uma organista. A decisão de Martin Luther King em abraçar uma vocação religiosa foi moldada pela tradição familiar e pela espiritualidade que permeava seu lar. Sua participação na Igreja Batista Ebenezer, em que seu pai pregava, contribuiu significativamente para sua compreensão da fé e da justiça. Ao ingressar no ministério pastoral, formalizando sua vocação religiosa, Martin Luther King deu um passo em direção à sua missão espiritual.

    Em 1951, Martin Luther King obteve o bacharelado em Divindade pelo Seminário Teológico Crozer, na Pensilvânia. Quanto ao título de doutor em Teologia Sistemática, recebido a 5 de junho de 1954, pela Universidade de Boston, ele o conservou, apesar de sua dissertação ter sido objeto de um inquérito acadêmico em outubro de 1991. Segundo a comissão universitária, várias passagens do seu texto não foram citadas de maneira apropriada.

    Entre 1954 e 1959, Martin Luther King exerceu o papel de pastor na Igreja Batista Avenida Dexter, localizada em Montgomery, Alabama. Seu compromisso religioso desempenhou um papel crucial em sua adoção da não violência como estratégia para a transformação social, uma influência vinda das ideias de Mahatma Gandhi (n. 2 de outubro de 1869 – m. 30 de janeiro de 1948). Nota-se que a escolha de Martin Luther King em seguir uma vocação religiosa foi enraizada em seus valores e crenças. Sua fé cristã não apenas impulsionou sua busca por justiça social e direitos civis, mas também inspirou suas ações em conformidade com os princípios do Evangelho, notadamente a mensagem de amor, igualdade e justiça para todos.

    Sobre sua vida privada, pode-se dizer que Martin Luther King uniu-se em matrimônio com Coretta Scott, a 18 de junho de 1953, que posteriormente assumiu o nome Coretta Scott King (n. 27 de abril de 1927 – m. 30 de janeiro de 2006). O casal teve quatro filhos: Yolanda (n. 1955 – m. 2007), Martin Luther King III (n. 1957), Dexter King (n. 1961) e Bernice King (n. 1963).

    Em 1954, Martin Luther King chegou a Montgomery, cidade situada no sul dos Estados Unidos. Nesse período, o estado do Alabama era caracterizado pela violência perpetrada contra a comunidade negra. Em dezembro de 1955, ele iniciou seu ativismo marcado pelo boicote aos ônibus de Montgomery, desencadeado pela prisão de Rosa Louise McCauley, mais conhecida por Rosa Parks (n. 4 de fevereiro de 1913 – m. 24 de outubro de 2005), por se recusar a ceder seu assento a um homem branco em um ônibus, violando assim as leis segregacionistas da cidade. Após 382 dias de ações, o boicote chegou ao fim com uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, de 21 de dezembro de 1956, que declarou a segregação em ônibus, restaurantes, escolas e outros espaços públicos como ilegal. A partir desse momento, Martin Luther King emergiu como líder carismático, demonstrando sua habilidade de mobilizar a comunidade afro-americana em busca de igualdade nos transportes.

    Em 1957, Martin Luther King foi um dos cofundadores da conferência de Liderança Cristã do Sul (Southern Christian Leadership Conference [SCLC]), uma organização dedicada à luta pelos direitos civis através de meios não violentos. Sua liderança na SCLC ampliou seu impacto, permitindo-lhe coordenar esforços em diversas frentes para combater a discriminação racial. Martin Luther King decidiu adotar a filosofia de desobediência civil não violenta, previamente empregada com êxito, na Índia, por Gandhi. Sob a orientação do ativista dos direitos civis Bayard Rustin (n. 17 de março de 1912 – m. 24 de agosto de 1987), ele optou por implementá-la durante as manifestações da SCLC. A 28 de agosto de 1963, Martin Luther King liderou a Marcha sobre Washington por Emprego e Liberdade, em que pronunciou seu discurso memorável “Eu tenho um sonho” (“I have a dream”), em frente ao Lincoln Memorial. Neste discurso, ele compartilhou sua visão de uma sociedade sem discriminação racial, a visão de um futuro em que as pessoas seriam julgadas pelo seu caráter, não pela cor de sua pele. Este evento reuniu centenas de milhares de manifestantes, demandando empregos e liberdade para afro-americanos e contribuindo para a pressão por legislações de direitos civis mais abrangentes. O ativismo de Martin Luther King desempenhou um papel estratégico ao mobilizar o apoio popular para a aprovação da Lei dos Direitos Civis de 1964, que proibia a discriminação racial em locais públicos e no emprego, e da Lei dos Direitos de Voto de 1965, que protegia o direito ao voto para os afro-americanos.

    A Marcha de Selma a Montgomery, realizada em março de 1965, foi um evento crucial no movimento pelos direitos civis. Selma, no Alabama, foi escolhida como palco devido à resistência local à integração racial. A marcha buscava chamar a atenção nacional para a necessidade urgente de proteger o direito ao voto dos afro-americanos. Com efeito, a discriminação racial e os obstáculos sistêmicos impediam que muitos afro-americanos exercessem seu direito ao voto no sul dos Estados Unidos. Em Selma, apenas 2% dos afro-americanos registrados para votar conseguiram superar as barreiras. A primeira tentativa de marcha de Selma a Montgomery, a 7 de março de 1965, resultou em violência policial brutal, intervenção que ficou conhecida como Domingo Sangrento (Bloody Sunday). As imagens impactantes dessa violência ganharam atenção nacional. Após este episódio, Martin Luther King liderou uma segunda marcha, contando com uma presença significativa de apoiadores de todo o país. Esse evento trouxe atenção nacional à causa e aumentou a pressão por legislação dos direitos de voto.

    Como consequência direta dessas marchas, a Lei dos Direitos de Voto de 1965 eliminou práticas discriminatórias que impediam o registro de eleitores afro-americanos. A aprovação da lei enfrentou resistência significativa de políticos do Sul, resultando em debates acalorados no Congresso. No entanto, o trabalho incansável de ativistas pelos direitos civis, incluindo Martin Luther King, ajudou a garantir sua aprovação. Pode-se afirmar que a Lei dos Direitos de Voto de 1965 foi uma resposta direta à discriminação sistêmica que dificultava o exercício do direito ao voto por parte dos afro-americanos no Sul. Esta legislação visava eliminar práticas como testes de alfabetização e outros métodos utilizados para impedir o registro de eleitores afro-americanos. Após a aprovação desta lei, um número significativo de afro-americanos pôde se registrar para votar, marcando um avanço substancial na participação política dessa comunidade. A Lei dos Direitos Civis de 1964 e a Lei dos Direitos de Voto de 1965, juntamente com a Marcha de Selma a Montgomery, representam momentos cruciais no movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, promovendo mudanças significativas na legislação e na sociedade, graças aos esforços de Martin Luther King e de outros defensores dos direitos civis.

    Em 1964, Martin Luther King foi laureado com o Prêmio Nobel da Paz, tornando-se o mais jovem agraciado até então. Sua liderança não violenta na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos foi assim reconhecida. As consequências desse prêmio foram significativas tanto para Martin Luther King quanto para a causa pela qual ele lutava. A abordagem pacífica para enfrentar a discriminação racial e promover a justiça social foi um fator chave para a concessão do prêmio a Martin Luther King. Esse reconhecimento internacional teve implicações diretas, influenciando outros movimentos sociais e destacando a necessidade de justiça e igualdade em todo o mundo. Martin Luther King tornou-se um símbolo da luta pacífica pela igualdade. Enquanto o prêmio trouxe reconhecimento e apoio, também intensificou a oposição e as ameaças à sua vida. Martin Luther King enfrentou desafios crescentes, incluindo resistência violenta de grupos contrários à sua causa.

    Em 1965, Martin Luther King foi condecorado com a Medalha das Liberdades Norte-Americanas pelo Comitê Judeu Americano, reconhecendo assim suas contribuições para a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos. Além disso, no mesmo ano, ele também recebeu o Prêmio Pacem in Terris, um reconhecimento anual concedido, desde 1964, em memória da encíclica Pacem in Terris, de 1963, do Papa João XXIII (n. 25 de novembro de 1881 – m. 3 de junho de 1963), que destacou princípios fundamentais de paz e liberdade. Este prêmio ressaltou o compromisso de Martin Luther King não apenas com a igualdade racial, mas também com a promoção da paz e da liberdade em um contexto global. Essas distinções refletem a importância do seu legado, tanto nacional quanto internacionalmente.

    Durante sua vida, Martin Luther King foi um líder dos direitos civis, destacando-se como um eloquente orador e defensor incansável da igualdade. Embora não tenha se dedicado à escrita tradicional de livros, sua contribuição literária é marcada por discursos e sermões. Entre suas obras mais notáveis estão “Carta da prisão de Birmingham” (“Letter from Birmingham jail”), escrita em 1963, enquanto estava detido, a qual representa uma resposta às críticas de clérigos brancos que questionavam as atividades do movimento pelos direitos civis e é uma defesa articulada da desobediência civil não violenta; “Eu tenho um sonho” (“I have a dream”), discurso proferido durante a Marcha sobre Washington por Emprego e Liberdade em 1963, no qual Martin Luther King compartilha sua visão inspiradora de uma sociedade em que a igualdade racial é uma realidade; Onde Estamos Indo? (Where do We Go from here: Chaos or Community?), livro, publicado em 1967, que expõe os desafios enfrentados pelo movimento dos direitos civis, tratando-se de uma perspectiva visionária do futuro, em que Martin Luther King analisa a necessidade de avançar em direção à coexistência pacífica e à igualdade genuína; Caminhada em Direção à Liberdade (Stride toward Freedom: The Montgomery Story), livro lançado em 1958 em que se detalha o boicote aos ônibus de Montgomery, um momento crucial na luta pelos direitos civis, e em que Martin Luther King faz uma análise das ações e dos desafios enfrentados durante esse período, tendo ganhado, em 1960, o Anisfield-Wolf Book Award, uma distinção literária nos Estados Unidos que visa reconhecer obras que desempenham um papel significativo na abordagem do tema do racismo e na promoção da diversidade da cultura humana; e Por Que não Podemos Esperar (Why We Can’t Wait), livro publicado em 1964 que aborda questões mais amplas relacionadas à luta pelos direitos civis e que destaca a urgência das mudanças sociais prometidas após a promulgação da Lei dos Direitos Civis de 1964.

    Martin Luther King foi assassinado a tiros por um segregacionista branco a 4 de abril de 1968, enquanto apoiava uma greve de lixo. Ele se encontrava na varanda do Lorraine Motel em Memphis, Tennessee.

    Ao longo de sua vida e de seu ativismo, Martin Luther King realizou diversas viagens internacionais. Em Portugal, sua presença se limitou a uma breve passagem pelo Aeroporto da Portela (Lisboa), a 28 de maio de 1967, enquanto se dirigia a Genebra. Nesse momento, cercado pela imprensa, Martin Luther King proferiu algumas declarações, registradas pelos periódicos Jornal de Notícias e Diário de Lisboa. Não há registros públicos conhecidos das posições de Martin Luther King em relação ao colonialismo português. No entanto, vale ressaltar que ele estava consciente da situação colonial portuguesa. Em 1959, por exemplo, trocou correspondências com a ativista angolana Deolinda Rodrigues (n. 10 de fevereiro de 1939 – m. 2 de março de 1967), que estava exilada no Brasil e considerava retornar a Angola, mas que temia ser presa pelo regime de Antônio de Oliveira Salazar (n. 28 de abril de 1889 – m. 27 de julho de 1970).

    Em Portugal, a influência do pensamento de Martin Luther King pode ser percebida principalmente em movimentos que buscaram a igualdade e a justiça social. Durante o período da Ditadura (1926-1974), que culminou na Revolução dos Cravos, em 1974, muitos ativistas locais buscaram inspiração em líderes de movimentos pelos direitos civis, como Martin Luther King, na luta contra a opressão e na busca por uma sociedade mais justa e inclusiva. Embora Martin Luther King não tenha tido uma influência direta ou ativa em Portugal, sua filosofia de não violência e luta pelos direitos civis serviu como um farol para muitos que buscavam uma mudança positiva em diferentes partes do mundo, incluindo Portugal. Suas ideias continuam a ser estudadas e celebradas como parte importante da história global da luta por justiça e igualdade.

    Bibliografia

    Impressa

    CARSON, C. (1998). The Autobiography of Martin Luther King Jr. New York: Intellectual Properties Management/Warner Books.

    OATES, S. B. (1982). Let the Trumpet Sound: A Life of Martin Luther King Jr. New York: Harper & Row.

    TAYLOR, B. (1988). Parting the Waters: America in the King Years 1954-63. New York: Simon & Schuster.

    TAYLOR, B. (1998). Pillar of Fire: America in the King Years 1963-65. New York: Simon & Schuster.

    TAYLOR, B. (2006). At Canaan’s Edge: America in the King Years 1965-68. New York: Simon & Schuster.

     

    Digital

    BRUNO, C. (2018, 3 de abril). “O ‘novo Gandhi’ que queria visitar as colónias. Como a imprensa portuguesa cobriu a vida e a morte de Martin Luther King”. Observador, https://observador.pt/especiais/o-novo-gandhi-que-queria-visitar-as-colonias-como-a-imprensa-portuguesa-cobriu-a-vida-e-a-morte-de-martin-luther-king/ (acedido a 08.01.2024).

    “Letter to Deolinda Rodrigues” (1959, 21 de dezembro), https://kinginstitute.stanford.edu/king-papers/documents/deolinda-rodrigues (acedido a 08.01.2024).

     

    Autor: Rosuel Lima-Pereira

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