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  • Utopia [Dicionário Pedagógico]

    Utopia [Dicionário Pedagógico]

    O termo “utopia” foi cunhado por Thomas More, no seu romance homónimo, publicado no ano de 1516. O autor juntou duas palavras de origem grega, ου (“não”) e τοπος (“lugar”), para compor o termo, que significa um lugar inexistente fisicamente, mas existente literariamente. A popularidade da obra de More levou a que o conceito se tornasse um género literário, caracterizado pela descrição de uma organização política e/ou social ideal em contraponto à realidade existente. A humanidade vivia então sob o impacto das grandes Descobertas, e parecia possível o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e humanista. Obras de filosofia, política ou simplesmente de ficção, tais como A República (380 a.C.) de Platão, A Cidade do Sol (1602) de Tommaso Campanella, Nova Atlântida (1624) de Francis Bacon e Cândido (1758) de Voltaire, entre outras, manifestam a importância deste género literário.

    Desde o Renascimento, a utopia tem inspirado muitas pessoas, como um ideal a ser perseguido, representando uma forma de superar as limitações do mundo real e de alcançar um estado de perfeição. Apesar disso, a ideia nem sempre foi vista como algo positivo. Na verdade, alguns indivíduos consideravam-na perigosa, por conduzir ao afastamento da realidade e à desconexão com os problemas concretos da sociedade. No século XX, correntes políticas conservadoras criticaram bastante a utopia, por considerá-la uma ameaça à ordem social. Por outro lado, muitos movimentos políticos e sociais defenderam este conceito como fonte de inspiração e motivação para mudanças sociais significativas.

    Atualmente, a ideia de uma sociedade utópica é considerada motivadora para realizar mudanças sociais. Contudo, também se compreende que a utopia deve ser discutida com realismo. É crucial admitir que este ideal não pode ser alcançado imediatamente. Os impactos da utopia na sociedade são variados e, muitas vezes, controversos. Por um lado, ela pode inspirar a criação de novas ideias e projetos, capazes de influenciar positivamente a sociedade. Por outro, a utopia também pode ser usada como um pretexto para a imposição de ideias e projetos que não são realistas ou viáveis. Em conclusão, trata-se de um conceito em evolução, que tem sido objeto de muitas querelas e determinações quanto a traços fundamentais. A utopia é uma força para a transformação social, mas deve ser abordada de forma realista, reconhecendo as suas limitações e os desafios da sociedade. Por tudo isto, é um conceito que, ao longo da história, tem assumido diferentes formas e significados.

     

    Formas de Utopia

    Uma das formas de utopia mais comuns é a utopia socialista, que defende a igualdade social e económica entre os membros da sociedade. Esta utopia tem sido defendida por muitos movimentos políticos ao longo dos anos, mas nunca foi alcançada.

    Outra forma de utopia é a utopia tecnológica, que acredita que a tecnologia pode resolver todos os problemas da humanidade. É muito popular no mundo atual, onde são muitos os que acreditam que a tecnologia pode tornar a vida mais fácil e resolver problemas como a poluição e as alterações climáticas.

    Há também a utopia ecológica, que defende uma forma de vida mais sustentável e em harmonia com o ambiente natural. Esta utopia tem sido mais e mais valorizada, à medida que se torna evidente a necessidade de preservar o ambiente e proteger a biodiversidade.

    Por fim, existe a utopia individual, que é mais subjetiva e depende das perspetivas e desejos de cada indivíduo. Pode assumir diferentes formas, como a realização pessoal, a felicidade plena, a liberdade ou a justiça.

    Em suma, a utopia é um conceito multifacetado, que assume diferentes formas, perspetivas e valores. Cada forma de utopia pode ter vantagens e desvantagens, e cabe-nos escolher que utopia melhor se adequa aos nossos ideais e objetivos de vida.

    A Utopia em Portugal

    A utopia tem sido uma constante ao longo da história de Portugal, muitas vezes associada a ideais de justiça, igualdade e liberdade. Desde o Renascimento, passando pelo Iluminismo, até ao movimento republicano e socialista e às ideologias políticas do século XX, a utopia foi um conceito que marcou o pensamento político e social português. Um dos exemplos mais significativos disso é o projeto da República, que se tornou realidade em 1910. A República representou um ideal de igualdade, fraternidade e liberdade que teve grande impacto na sociedade portuguesa, transformando a forma de governo e criando um novo modelo de Estado.

    Um exemplo de utopia em Portugal é a ideia de uma sociedade mais justa e igualitária, onde os direitos humanos sejam respeitados e garantidos para todos. Esta utopia tem inspirado a luta pelos direitos das minorias, pela igualdade de género, pela proteção dos direitos das crianças e dos idosos, entre outras causas.

    Atualmente, em Portugal ou em qualquer outro lugar do mundo, a utopia continua a ser um ideal a seguir, seja na luta contra a desigualdade e a pobreza, na defesa do ambiente e da biodiversidade, ou na criação de uma sociedade mais inclusiva e justa.

    A utopia é, assim, uma força motriz que ajuda a mudar a realidade e a construir um futuro melhor para todos.

    Proposta de ação pedagógica

    1. Começar por fazer uma breve explicação do conceito de utopia, destacando que é um lugar imaginário e ideal, onde as coisas são perfeitas e as pessoas vivem felizes. Deste modo, pretende-se que os participantes desta atividade pensem sobre como seria uma cidade ideal, onde tudo funcionasse bem e as pessoas se ajudassem mutuamente;
    2. Iniciar uma discussão onde os participantes possam compartilhar as suas ideias e visões sobre uma cidade utópica, encorajando-os a pensar em diferentes aspetos, como a aparência da cidade, o sistema de transportes, a educação, a igualdade, a justiça, o meio ambiente, entre outros;
    3. Fazer pequenas equipas de trabalho, de preferência com variedade de idades e habilidades. Cada equipa tem o papel de criar uma parte da cidade utópica, como a área residencial, a área de lazer, a área educacional, etc.
    4. Após as equipas criadas e organizadas, dar um tempo para as mesmas planearem e desenharem as suas cidades. Ter em conta detalhes como a arquitetura dos prédios, os espaços verdes, as estruturas de apoio (hospitais, bibliotecas, centros comunitários) e qualquer outra característica que considerem importante;
    5. Depois dos trabalhos concluídos, cada equipa apresenta a sua cidade utópica às restantes equipas. Os grupos podem usar maquetes, PowerPoints ou qualquer outro suporte para mostrar as suas ideias. Incentivar os participantes a explicar o raciocínio por detrás das suas escolhas e de que maneira acham que a cidade utópica beneficiaria os seus habitantes;
    6. Por fim, encerra-se a atividade com uma discussão em grupo, incentivando os participantes a refletirem sobre as diferentes visões de utopia apresentadas. Concluindo-se a discussão, pergunta-se a cada grupo o que aprendeu com a atividade e pede-se que reflita acerca da aplicação no mundo real das ideias apresentadas, mesmo que de forma parcial.

    (Esta atividade não só introduz o conceito de utopia de forma acessível para crianças e jovens, como também promove o pensamento crítico, a expressão criativa e o trabalho em equipa).

    Bibliografia

    Impressa 

    MORE, T. (2019). Utopia. Trad B. Mendes & H. Guégués. Lisboa: BookBuilders.

     

    Digital

    170 Ações Diárias para Transformar o Nosso Mundo, https://e4k4c4x9.rocketcdn.me/pt/wp-content/uploads/sites/9/2019/04/170Actions-WEB-PT-EU.pdf (acedido a 21.02.2024).

    BORGES, A. (2016, 22 de outubro). “Utopias, distopias, retrotopia”. Diário de Notícias, https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/anselmo-borges/utopias-distopias-retrotopia-5456732.html (acedido a 21.02.2024);

    CHAUÍ, M. (2008). “Notas sobre a utopia”. Ciência e Cultura, 60 (1), http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252008000500003 (acedido a 21.02.2024);

    “Utopia”, https://sites.google.com/view/sbgdicionariodefilosofia/utopia (acedido a 21.02.2024).

    Autores

    Agrupamento de Escolas de Redondo (ano letivo 2022-2023)

    Professor: Elísio Gala

    Aluna: Margarida Carriço

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