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    Relativismo [Dicionário Pedagógico]

    O relativismo é uma corrente de pensamento – aplicável ao conhecimento em geral, mas sobretudo aos campos da moral, da ética e da cultura – que questiona as verdades universais do homem, entendendo o conhecimento como subjetivo. O relativismo pensa a verdade em termos relativos, não absolutos, pelo que falar de “verdade” é apenas falar de uma verdade entre outras verdades condicionadas por diferentes contextos de natureza histórica, cultural, económica ou política e os preconceitos de cada indivíduo. Segundo a perspetiva relativista, uma vez que as sociedades são, em si, distintas, regidas por valores, crenças e tradições díspares, não é possível determinar se uma tem um código moral mais correto do que a outra. Logo, não só é impossível afirmar a existência de verdades morais universais, como os vários modos de interpretar e explicar o mundo são válidos, bastando para tal que sejam formulados com base em argumentos compreensíveis e justificáveis.

    O relativismo enquanto posição filosófica no mundo ocidental existe desde que há filosofia. No séc. V a.C, a filósofos como Sócrates e Platão opunham-se os sofistas, para quem, mais do que a busca da verdade, importava o triunfo discursivo sobre o adversário, numa sociedade onde tal triunfo poderia implicar o acesso ao Poder. Mais do que a verdade, importava a verosimilhança, o que tivesse aparência de verdade, para triunfo retórico.

    Um dos mais notáveis sofistas, Protágoras (490-420 a.C.), afirmava ser o homem a medida de todas as coisas, o que, entre outras interpretações, é entendido como uma forma de relativismo, em que a realidade depende de quem vê e do modo como vê. Na sequência do relativismo de Protágoras, outros notáveis pensadores manifestaram com maior ou menor ênfase posições relativistas, tais como Pirro (360-270 a.C.), Boécio (480-524) e, no âmbito do relativismo cultural, Montaigne (1533-1592), Rousseau (1712-1778), Voltaire (1694-1778) e Montesquieu (1689-1755). Em termos contemporâneos, filósofos como Nietzsche e Dilthey assumiram posições de inspiração relativista, influenciando o modo de fazer e pensar a ciência, ou de pensar a filosofia e a religião e a natureza da relação do homem com os outros e Deus.

    Podemos considerar a existência de vários tipos de relativismo: – o sofista, entendido como sendo uma linha de pensamento oriunda de uma vertente do pensamento grego que defende a subjetividade da verdade. Ou seja, aquilo que o homem acredita e defende, seja enquanto moral ou conhecimento, decorre do que ele vê e experimenta no seu contexto; – o cognitivo ou gnoseológico, que se refere ao facto de o conhecimento não ser absoluto nem objetivo, mas dependente, sim, do indivíduo e do contexto em que ele é interpretado, existindo assim várias verdades, nenhuma sendo objetiva ou absoluta. Demarca-se pois da posição subjetivista, segundo a qual a verdade dos juízos depende da aprovação da sociedade, sendo ela a determinar o que é moralmente correto ou incorreto; – o moral, que considera ser a verdade ou a falsidade dos juízos morais relativa a cada sociedade, que determina o que é certo ou errado, enquanto promove a coesão social; – o religioso, que, questionando a formação dos conceitos de bem e mal ligados à religião, coloca também em questão a palavra de Deus como verdade absoluta; – o cultural, segundo o qual o conjunto de hábitos, crenças e valores de um grupo (ou seja, a sua cultura), num determinado espaço e tempo, determina o que este considera ser verdade; – o relativismo na Física, de acordo com o qual a verdade depende do modelo de observação da realidade, o que é particularmente evidente no campo da Física Quântica, após a proposta da teoria da relatividade por Einstein.

    O relativismo, tal como muitas outras teorias, é suscetível de críticas e objeções, tais como:

    – a admissão de um código moral por parte de uma sociedade não implica necessariamente que este seja objetivamente correto;

    – a impossibilidade de determinar se o código moral da sociedade é melhor do que o de outra leva-nos a questionar se teremos de tolerar códigos morais diferentes ou mesmo contrários de outras sociedades;

    – o relativismo promove o conformismo moral, anulando o espírito crítico em nome da coesão social.

    Em conclusão, podemos afirmar que o relativismo, além de tornar tudo subjetivo, se contradiz. De facto, se considerarmos o enunciado “toda a verdade é relativa” como uma formulação que se pretende verdadeira, a afirmação torna-se contraditória. É que afirmar que toda a verdade é relativa implica que esta afirmação seja relativa e que pode existir, como possibilidade, uma verdade absoluta.

    Bibliografia

    Impressa

    BOGHOSSIAN, P. (2015). O Medo do Conhecimento contra o Relativismo e o Construtivismo. Lisboa: Gradiva.

    VASCONCELOS, F. F. (2023). A Internacionalização dos Direitos Humanos e o Relativismo Cultural – A Mulher Muçulmana na Busca da Igualdade como Reconhecimento. São Paulo: Dialética.

     

    Digital

    “Relativismo (filosofia)”, https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$relativismo-(filosofia) (acedido a 21.02.2024).

    ROMÃO, R. B. (s.d.). “Relativismo”. In Dicionário de Filosofia Moral e Política – Instituto de Filosofia da Linguagem, https://www.dicionariofmp-ifilnova.pt/wp-content/uploads/2019/07/Relativismo.pdf (acedido a 21.02.2024).

    WESTON, A. (2004). “Relativismo. Algumas questões filosóficas”. Trad. L. F. Bettencourt, https://criticanarede.com/relativismo.html (acedido a 21.02.2024).

     

    Autores

    Agrupamento de Escolas de Redondo (ano letivo 2022-2023)

    Professor: Elísio Gala

    Alunos: Dinis Basílio e Eduardo Panaça

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