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    Silva, Agostinho da [Dicionário Global]

    George Agostinho Baptista da Silva nasceu no Porto, em Bonfim, a 13 de fevereiro de 1906, tendo sido um filósofo, poeta, ensaísta, professor, filólogo, pedagogo e tradutor português, tendo-se dedicado à educação, política e cultura em geral.

    O seu pensamento combina elementos de panteísmo, milenarismo e ética da renúncia, afirmando a liberdade como a mais importante qualidade do ser humano. Ele era bastante empenhado em tentar mudar a sociedade para algo melhor. Nas suas obras, Agostinho da Silva refletiu sobre temas como a democracia, a tolerância, a solidariedade, a justiça social e a paz, sendo as principais: A Vida de Pasteur, publicada em 1938; Um Fernando Pessoa, em 1958; e Sete Cartas a um Jovem Filósofo: Seguidas de Outros Documentos para o Estudo de José Kertchy Navarro, em 1945.

    Falando sobre as suas obras, aquelas que mais fazem referência à temática dos direitos humanos são, em primeiro lugar, Educação e Liberdade, que aborda a importância da educação como um instrumento de liberdade individual e desenvolvimento humano. Agostinho defende aqui a ideia de que a educação libertadora é fundamental para a formação de indivíduos conscientes dos seus direitos e capazes de contribuir para uma sociedade mais justa. Outra obra é O Problema do Homem, onde é explorada a condição humana e a busca pela realização pessoal. Embora não seja exclusivamente sobre direitos humanos, ele reflete sobre a importância da liberdade, da dignidade e da autonomia do indivíduo. Por fim, Um Nómada no Ocaso, um diário de viagem em que Agostinho da Silva compartilha as suas experiências e reflexões durante as suas jornadas pelo mundo. Nele, o autor traz reflexões sobre a diversidade cultural, a tolerância e o respeito às diferenças, temas que estão intimamente ligados aos princípios dos direitos humanos.

    O autor ampliou, também, a sua “luta” a nível internacional, tendo participado ativamente no movimento pela independência de Angola e Moçambique durante as décadas de 1950 e 1960. Estas duas colónias portuguesas na África procuravam libertar-se do então domínio português a que estavam sujeitas e conquistar a sua autonomia política e social. Agostinho defendeu o seu direito de povos colonizados à autodeterminação e à liberdade, rejeitando o sistema colonial como uma forma de subjugação e violação dos direitos humanos, já que acreditava que a luta pela independência dos países colonizados era uma luta pela dignidade humana e pela justiça social.

    Apesar das suas posições contrárias ao regime colonial português, Agostinho não aderiu à violência como forma de luta. Defendia uma abordagem pacífica e dialogante na busca pela independência e pela construção de uma sociedade justa e igualitária. A sua visão era de que a liberdade deveria ser conquistada por meio da educação, do diálogo e da valorização da cultura e identidade dos povos colonizados.

    Além da sua obra escrita, Agostinho da Silva teve uma ação concreta na defesa dos direitos humanos. Para o filósofo, estes, tal como a educação, eram fundamentais para a construção de uma sociedade justa e igualitária, pois permitem que as pessoas tenham acesso ao conhecimento e à cultura, o que contribui para a ampliação da consciência crítica e para o desenvolvimento de uma cidadania ativa. Além disso, lutou contra o autoritarismo e o totalitarismo, defendendo a democracia e os direitos individuais. Acreditava também que todos deviam ter os mesmos direitos e oportunidades, independentemente da sua raça, religião, sexo ou classe social, e defendia a ideia de que a dignidade humana é um valor intrínseco a ser protegido.

    Durante a ditadura salazarista em Portugal, foi perseguido e preso diversas vezes devido às suas posições políticas e ideológicas, mas, mesmo assim, nunca deixou de lutar pela liberdade e pela justiça.

    O autor viveu no Brasil entre os anos de 1947 e 1969. Inicialmente, estabeleceu-se em São Paulo e, mais tarde, mudou-se para o Itatiaia, onde fundou uma comunidade. Mais tarde, colaborou com Jaime Cortesão na pesquisa sobre diversos temas históricos.

    Adquiriu a nacionalidade brasileira em 1959. Teve, portanto, uma relação bastante significativa com o Brasil. A sua presença e influência no meio intelectual e cultural brasileiro foram marcantes, e ele deixou um legado duradouro na história intelectual do país, como professor e pensador, onde desenvolveu uma boa parte da sua obra.

    Lecionou em diversas instituições de ensino, como a Universidade Federal da Paraíba, a Universidade do Estado da Guanabara e a Universidade Federal de Santa Catarina, tendo os seus ensinamentos tido um grande impacto nos seus alunos, muitos dos quais se tornaram importantes intelectuais e pensadores brasileiros.

    Além das suas atividades académicas, Agostinho da Silva também teve uma participação ativa na vida cultural e política do Brasil. Foi um defensor da cultura brasileira e acreditava na importância de valorizar as raízes culturais do país. Defendia a ideia de uma identidade brasileira baseada na diversidade e no diálogo entre diferentes culturas.

    Uma outra obra relevante de Agostinho da Silva, neste caso, no contexto brasileiro, é Brasil: Terra de Contrastes (1976). Neste livro, ele faz uma análise crítica da realidade social, política e económica do Brasil, destacando as desigualdades e as contradições do país. Agostinho da Silva defendia a necessidade de uma transformação profunda da sociedade brasileira, baseada em valores como a solidariedade, a justiça social e a participação cidadã.

    Ao longo da sua vida lá, Agostinho da Silva também manteve contacto com diversos intelectuais e artistas brasileiros, como Vinicius de Moraes, Cecília Meireles e Darcy Ribeiro.

    Na área da educação, estava ligado ao Movimento da Educação Nova, um movimento organizado que, antes disto, foi muitas vezes praticado num ambiente social e político adverso. Foi adotado em Portugal no final do século XIX, e pretendia ser uma alternativa à escola tradicional, influenciando algumas instituições privadas também em Portugal, que se reviam nos seus ideais, finalidades e objetivos. O pedagogo desenvolveu uma produção documental sobre este tema, através da redação das biografias de alguns dos seus educadores, mas também através de práticas. Este movimento foi, no entanto, destituído de Portugal com a chegada do Estado Novo.

    Pode-se dizer que o pioneiro do Movimento da Educação Nova foi Jean-Jacques Rousseau, mas também se destacam outros nomes, biografados por Agostinho, como Johann Heinrich Pestalozzi e Lev Nikolayevich Tolstoi.

    Agostinho da Silva é um bom testemunho da resistência ao Estado Novo, visto que, mesmo depois de demitido do ensino, desenvolveu um projeto educacional alternativo, que é sistematizado em 1939, com a fundação do Núcleo Pedagógico Antero de Quental, e é a partir daí que começa uma investigação ligada à inovação pedagógica e, também, publica algumas das biografias mencionadas anteriormente, que foram tão importantes para o desenvolvimento no seu ideário educativo. Esse projeto tinha como objetivos realizar missões de cultura pelas vilas e aldeias, com palestras e projeções cinematográficas, organizar conferências pedagógicas relativas à educação de adultos e crianças, fundar escolas experimentais em que se adaptassem métodos modernos, organizar sessões culturais via rádio, entre outros.

    É importante fazer referência a este movimento, pois influencia Agostinho no que diz respeito à educação e às suas ações na área.

    O autor deixou claras as suas opiniões sobre certos sistemas de ensino, ao longo dos tempos, nas suas obras, entre eles, criticou os sofistas, que não olhavam a meios para atingir os fins, os Jesuítas, pela sua extrema retórica, excessivo verbalismo, extrema necessidade de memorização e repetição dos textos. Criticava também modelos que incentivavam uma competitividade tóxica entre os alunos e valorizavam mais a obtenção de um diploma por parte destes do que, de facto, o conhecimento que estes tinham e obtinham. Fez referências positivas também à pedagogia socrático-platónica, que não afirmava o saber, mas, de certa forma, questionava-o.

    Em suma, Agostinho da Silva foi um filósofo e pensador humanista de grande importância, sendo a sua obra e ação em torno da problemática dos direitos humanos um exemplo para todos, pela sua coragem, o seu comprometimento e pela sua dedicação à luta pela liberdade, igualdade e justiça para todos. E mesmo depois da sua morte, em 1994, a sua luta continua a ser uma inspiração para todos os que lutam por um mundo melhor e mais justo.

    Bibliografia

    Impressa

    FRANCO, A. C. (2015). O Estranhíssimo Colosso – Biografia de Agostinho da Silva. Lisboa: Quetzal.

    SILVA, A. et al. (2020). Vida Conversável (1.ª ed. completa). Sintra: Zéfiro.

     

    Digital

    “Movimento da Educação Nova”, https://blocodenotas2010.blogs.sapo.pt/79764.html (acedido a 13.03.2024).

    “Agostinho da Silva”, https://arquivos.rtp.pt/colecoes/agostinho-da-silva (acedido a 13.03.2024).

    Autor: Elísio Gala

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