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  • Goulden, Emmeline (Pankhurst) [Dicionário Global]

    Goulden, Emmeline (Pankhurst) [Dicionário Global]

    No dia 8 de março celebra-se o Dia Internacional da Mulher. A celebração deste dia em específico denota, logo à partida, a discriminação que a mulher sofreu ao longo da história. Desde as sociedades primitivas, passando pelo pater familias romano, até chegar a meados do século XIX, a figura feminina sempre foi decomposta por um conjunto de adjetivos que a inferiorizavam em relação o homem. Os deveres femininos não deveriam interferir com o intelecto masculino, que conduzia o mundo.

    Uma das figuras proeminentes da luta feminista, que pretendeu alcançar a igualdade de género em termos de direitos e deveres, foi Emmeline Goulden, mais conhecida pelo apelido Pankhurst.

    Emmeline Goulden nasceu a 14 de julho de 1858, em Moss Side, Manchester, Inglaterra. Crescendo num ambiente familiar politicamente ativo, Emmeline cedo notou a condição distinta das mulheres face aos homens.

    Recorda, na sua autobiografia, My Own Story (1914), a última execução pública em Manchester, que remonta à sua infância. Admite que não sofreu qualquer tipo de privações, amargura ou sofrimento e, por essa razão, a sua participação política ativa apenas se deveu a um sentimento empático para com aqueles que sofriam injustiça social. Lembra ainda o facto de não questionar a educação somente direcionada para raparigas, afastadas e separadas dos rapazes.

    Um acontecimento que merece relevo será quando o pai se lamentou por Emmeline não ter nascido rapaz, acontecimento que parecia desenhar-se contraditório perante o facto de ambos os pais defenderem a igualdade de sufrágio (PANKHURST, 1914, 4-9). A figura paterna teve ainda um papel de relevo, pelo facto de pedir a Pankhurst que lhe lesse o jornal ao pequeno-almoço, o que despertou o seu interesse político.

    Tinha 14 anos quando foi ao seu primeiro encontro sufragista. Sua mãe frequentava esses encontros. Aí conheceu Susan B. Anthony, editora do Women’s Suffrage Journal. Porém, considerava que sempre tinha sido sufragista, mesmo que inconscientemente.

    Recorda ainda a Reforma do Ato, de 1866, em cujo debate participou John Stuart Mill, filósofo e feminista. Tal debate espoletou o interesse de Emmeline pela política, tornando-se a primeira eleição em que participou, em auxílio do pai, que pertencia ao Partido Liberal.

    Casou, aos 21 anos, com Richard Pankhurst, de quem recebeu o célebre apelido, sufragista e pertencente ao Partido Liberal. Foi o fundador do Manchester Women’s Suffrage Commitee e elaborou o inicial Women’s Enfranchisement Bill, posteriormente entitulado Women’s Disabilities Removal Bill, que iria atribuir às mulheres direito de voto igual ao dos homens (cf. PANKHURST, 1931).

    Em 1889, o casal fundou o Women’s Franchise League, que lutava pelo direito de voto das mulheres em eleições regionais. Mas foi em 1903, após a morte do marido em 1898 e de um período de reclusão política, que iniciou a Women’s Social and Political Union (WSPU), liderando o movimento sufragista com o auxílio de duas das suas filhas, Sylvia e Christabel. As mais novas, posteriormente, iriam subscrever a mesma luta. Apostou-se numa maior radicalização em comparação com os restantes movimentos sufragistas que existiam então, em especial o National Union of Women’s Suffrage Societies (NUWSS) (PANKHURST, 2001).

    Conhecidas pelas ações violentas (prédios incendiados, vidros destruídos, greves de fome), eram repetidamente presas. As integrantes do movimento ficaram conhecidas como as Suffragettes.

    Com o espoletar da Primeira Guerra Mundial, em 1914, o WSPU incitou as Suffragettes a trabalhar em fábricas de produção de munições para os soldados e encorajou os homens a alistarem-se no exército. Pankhurst defendia o White Feather Movement, que desonrava os homens que não se alistavam. No mesmo ano, publicou a sua autobiografia, My Own Story.

    Em 1918, a Grã-Bretanha tornou-se pioneira entre as democracias ocidentais, com a aprovação do direito de voto para mulheres acima de 30 anos, no denominado “Representation of the People Act”. Tal conduziu à extinção do movimento e a que Emmeline fosse candidata ao Parlamento inglês pelo Partido Conservador. Considerava que o Partido Liberal tinha falhado na luta sufragista, tendo muitos partidários resignado do mesmo, numa altura em que o Women’s Liberal Federation alcançava os 200.000 integrantes. No entanto, nunca chegou a ser eleita.

    Em julho de 1928, semanas após a morte de Emmeline Pankhurst em Londres, a 14 de junho, foi aprovado o direito de voto para todos os homens e mulheres acima de 21 anos. Dois anos depois, foi construída uma estátua em sua memória, no London’s Victoria Tower Gardens.

    O seu discurso em Hartford, Connecticut, a 13 de novembro de 1913, “Freedom or Death”, é um dos grandes discursos do século XX. Neste adjetivou a luta pela igualdade de género como a mais difícil de todas.

    Os seus descendentes dão continuidade à luta feminista, entre a Etiópia e o Reino Unido.

    A luta pela igualdade de género nunca esteve tão patente no debate político, global e atual. Movimentos e manifestações têm sido realizados um pouco por todo o mundo, mostrando que a igualdade de género ainda é uma realidade que está longe de ser alcançada em muitos países. O Afeganistão tornou-se protagonista, enquanto um dos territórios onde mais se sente a discriminação feminina. Os direitos à educação, ao voto, ao livre desenvolvimento, com proteção constitucional em muitos países, são, para tantos outros, uma realidade inconsistente e instável.

    Para uma visão mais aprofundada da questão, ver o texto “Direitos das Mulheres”, do presente Dicionário.

    Bibliografia

    Impressa

    PANKHURST, E. (1914). My Own Story. N.Y.: Hearst International Library. (Kraus Reprints, 1971).

    PANKHURST, E. S. (1931). The Suffragette Movement: An Intimate Account of Persons and Ideals. London: Longmans, Green and Company.

    PANKHURST, C. (2010). “The Militant Methods of the N.W.S.P.U.: Sppech at St. James’s Hall (15 October 1908)”. In J. Marcus (ed.). Women’s Source Library (34-50). (vol. VIII: Suffrage and the Pankhursts). London: Routledge.

    PANKHURST, E. S. (2019). The Suffragette: The History of the Women’s Militant Suffrage Movement (English Edition). Glasgow: Good Press.

    PURVIS, J. (2003). Emmeline Pankhurst: A Biography (Women’s and Gender History. London/New York: Routledge.

    Digital 

    PANKHURST, E. (1913, 13 de novembro). “Freedom or Death”. Iowa State University: Archives of Women’s Political Communication, https://awpc.cattcenter.iastate.edu/2017/03/09/freedom-or-death-part-1-nov-13-1913 (acedido a 01.03.2024).

    “Representation of the People Act, 1918”, https://www.parliament.uk/about/living-heritage/transformingsociety/electionsvoting/womenvote/parliamentary-collections/collections-the-vote-and-after/representation-of-the-people-act-1918 (acedido a 01.03.2024).

    “Suffrage”, https://www.britannica.com/topic/suffrage (acedido a 01.03.2024).

    Autora: Catarina D’Oliveira

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